Nesta semana o Departamento Cultural do MTG Mato Grosso, foi para a cidade de Montevidéu no Uruguai, para falar um pouco dos 125 anos da Sociedad La Criolla Dr. Elias Regules. A primeira sociedade dedicada a preservação da cultura gaúcha. Fundada em 25 de maio de 1894 pelo Doutor Elias Regules.
Em entrevista exclusiva com a 1ª Prenda Veterana do MTG-MT, Aritana Kuymtzief, sobre a comemoração do aniversário desta entidade o Presidente da CITG - Confederação Internacional da Tradição Gaúcha, Nei Zardo, fala sobre a importância desta entidade para a CITG e ainda deixa mensagens aos jovens tradicionalistas de todo o Brasil.
De que forma esta instituição, que este ano comemora 125 anos de fundação, ainda contribui para a preservação dos usos e costumes de seu povo?
Nei Zardo: Essa instituição na verdade é algo incrível aqui dentro de Montevidéu situada em uma área nobre e extensa para uma entidade tradicionalista, aqui na Avenida Bolívia. Essa entidade na verdade é uma escola do tradicionalismo, ela possui uma sede maravilhosa e nesta sede há inclusive parte de uma estação férrea, uma escola primaria rural, um bolicho, um museu, enfim é algo impressionante e esta aberta constantemente para visitas culturais, para entidades e para estudantes aprenderem sobre a cultura gaúcha. Essa sociedade foi fundada pelo Dr. Elias Regules, que era um médico e que não obstante a sua condição de médico quis preservar e trazer para dentro da cidade do meio urbano os usos e costumes do homem campeiro da República Oriental do Uruguai. E depois com o passar dos anos e do falecimento do Dr. Elias regules que nos deixou um legado muito grande, ela passou então a se chamar Sociedade La Criolla Dr. Elias Regules, ou seja Sociedade Crioula Dr. Elias Regules.
Como é a relação da instituição com as modernidades, com as mudanças que o passar dos anos nos impõem e que muitas vezes afetam diretamente a tradição?
Nei Zardo: Olha eu, te diria que as modernidades, auxiliaram a Sociedade La Criolla e nós temos que recebê-las com toda a naturalidade pois afinal de contas, nós não somos retrógados e nem simples saudosistas, o que nós não podemos perder são nossas origens e isso não afeta a tradição, o que afeta a tradição por exemplo é que os paulistas os goianos os mineiros, fizeram; abandonaram suas próprias tradições e adotaram a cultura dos cowboys dos Estados Unidos, do Texas, eles perderam sua identidade, mas nós não, nós absolutamente não perdemos nossa identidade, nós aproveitamos a modernidade com tudo aquilo que nos proporciona.
O Senhor como Presidente da CITG, vislumbra uma relação na forma de ser e sentir entre o tradicionalista gaúcho brasileiro e o tradicionalista gaúcho uruguaio e argentino?
Nei Zardo: Eu diria que não existe o tradicionalista gaúcho uruguaio, brasileiro ou argentino. Existe o tradicionalista gaúcho, seja ele brasileiro, uruguaio ou argentino. Porque nós constituímos uma nação, a nação gaúcha, não importa aonde nós estejamos, nós somos uma nação, sejamos riograndenses, catarinenses, paranaenses, mato-grossenses, enfim, de todos os estados, mas somos gaúcho, ou seja nós constituímos essa nação gaúcha e ela abrange também, a República Oriental do Uruguai e República Argentina, todos nós constituímos uma nação, e os nossos usos e costumes preservados, algumas particularidades idiossincrasias, elas são absolutamente a mesma tradição.
Qual o segredo da Sociedad La Criolla para ainda se manter viva e pulsante?
Nei Zardo: Não há segredo, é o amor ao pago, aquilo que é nosso, ao preservar as nossas raízes e nessa preservação, nesse amor, que se tem pelas nossas tradições, pela nossa cultura é que a Sociedade La Criolla Elias Regules, se mantem, não é que ela resiste ao tempo, ela se mantem viva, pulsante, exuberante, e dando exemplo para todo o Cone Sul da América.
Que mensagem ou conselho o Senhor poderia deixar à juventude tradicionalista que se prepara para a condução do Movimento Tradicionalista organizado daqui alguns anos?
Nei Zardo: Quando em 1949, os tradicionalistas que iniciavam com o 35 CTG em Porto Alegre, entre eles Paixão Cortes, Glaucus Saraiva da Fonseca, Cyro Dutra Ferreira, o Coronel PM e poeta Vasco de Mello Leiria, entre outros companheiros como Barbosa Lessa, vieram para o Uruguai, para a República Oriental do Uruguai para ver que fenômeno era esse que o Uruguai tinha; um tradicionalismo tão pujante e nós no Brasil nada, porque no Brasil apenas se tinha em Porto Alegre, apenas começando algumas entidades que eram só de galpão, mas o galpão de uma estância, aonde as mulheres da estância não participavam, só homens. E ai vieram pra cá (Uruguai) e viram as mulheres participando, as crianças participando, os velhos participando, todos irmanados fazendo com que a aquela vida não fosse só de galpão que envolvesse a família e a família é o laço que une gerações à gerações.
E então uma coisa que nós deturpamos, e ai vai um puxão de orelhas para os tradicionalistas do Brasil, que as moças que no início copiaram os mesmos vestidos os mesmos trajes simples das prendas da Republica do Uruguai, começaram a sofisticar as suas vestimentas, os peões também, cada um querendo demonstrar mais ostentação que o outro e ai sofreu-se uma influência negativa.
Talvez muitos não tenham nem nascido, mas existiu uma série de filmes da Sissi, da Áustria, aquela imperatriz Sissi, que na época os filmes eram estrelados por Romy Schneider, e ela com aqueles vestidos suntuosos, maravilhosos e as nossas prendas começaram a copiar isso, e isso foi maléfico, porque atualmente quantas prendas não tem condições de gastar fortunas, para demonstrar e ostentar uma coisa que não existe, porque o vestido da Prenda atual não é algo tão tradicional como se pensa, porque foi uma criação, porque na época eram os trajes da época, mas não eram trajes de ostentação.
Então eu penso que a nossa juventude tradicionalista tem que fazer uma releitura muito séria, da nossa indumentária, e da preservação dos nossos usos e costumes, como era feita no passado, assim nosso tradicionalismo terá futuro, ou caso contrário irá sucumbir. Essa é a mensagem que eu deixo e o conselho para que reajam e parem também de tanto concurso, de buscar ganhar, os CTGs tem gasto fortunas, quando se deveria para com a corrida enfrene para conquistar títulos, o que se deve é valorizar a nossa cultura e parar com esses concursos que irão nos levar a bancarrota do tradicionalismo, eu tenho confiança na juventude tradicionalista, façam uma releitura sobre isso.